Amnésia

Poesia 'amnésia' por @ManayDeo O Poeta Publicitário
Esquecimento é a formatação para sobrevivência da memória


Amnésia

Dias desses, que quase nem me lembro,
me peguei apegado ao passado
que me parece, agora, quase apagado.

No brilho da brasa desse instante,
que já é quase antiguidade,
bem no limiar da chama
que se extingue, divaguei:

Faz um tempo, nem tanto tempo assim,
que o tempo faz um tempão.
Ontem, uma década.
Hoje, um amanhã que demora eternidades.

Dias desses só me salvo
quando falha a memória:

- ESQUEÇO, logo, resisto.

Minha memória declarativa,
pede explícito socorro:

delete esses tempos turvos,
ou esqueça lembrar suas saudades.
Suplico em nome das minhas lembranças:

Não me faça ser apenas
quem segue procedimentos,
quero armazenar meus melhores momentos
em memoriais de recordações vivas.

Esquecimento é a formatação para sobrevivência da memória


Quero até que minha memória implícita
seja consciente, e não só os gestos
comportamentais de sobrevivência,
automatizados pela forma confortável
da monotonia de dias de mortes
normalizadas
parecem um tiro na raia da corrida pela vida.

As horas que me percebo,
Corro pelas linhas de sinapses nervosas,
para me queimar menos
com o tratamento de eletrochoque
dessa cruel realidade;
voar é estar doente dos pés.


Não sei lidar com o preço
do peso de tantos pesares:
para milhões de pessoas,
apenas a pena da vida perdida.

Mais nada.

Para os milhões de bilhões de poucos,
o lado do abismo lotado de lucros
e mais lucros, ao custo
de tantas vidas engolidas.

Para os tantos desses poucos,
mais, e mais, e muito mais...

sempre muito mais que as mãos dos muitos
que nada tem, conseguem suportar.


Os momentos que nem sei,
ficam perdidos em algum lugar que um dia me lembrarei:

- Eu vivi mesmo este momento?

Todos os dias parecem iguais.
Brincaram outro dia:


- Agora as semanas tem três
dias, e se chamam

o ontem
o hoje
o amanhã

As horas,
são o que a janela da cozinha
me mostrar:

é dia?
é noite?
começo?
término?
vivo?
morro?
alucino!!!

Dia desses lembrei desse poema
que termina onde começo a lembrar
se foi eu quem escrevi:

- Ainda estou o poeta que me sou?
Dias desses, quase nem me lembro.



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Manay Deô
Manay Deô - O Poeta Publicitário

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