Quando Nietzsche me olhou


O medo nos molda ou isso é uma mentira romântica que contamos para nos enganar? Cuidado onde pisa, o caminho é repleto de armadilhas. As arapucas mais perigosas costumam ser as mais sedutoras. E sabemos bem o quão suscetíveis somos ao belo ordinário.

O abismo é sedutor, atrai nosso olhar para baixo. É essa persuasiva visão profunda que faz do abismo um lugar tão perigoso. Dizemos a nos mesmo que não queremos estar lá, mas diante dele, encaramos nossas fraquezas e vontades.

Agora, seria pior se você soubesse que, o que dá ao abismo tanto poder de atração somos nós mesmo? Duvida? Releia a frase:

"Quando olhamos para o abismo, ele nos olha de volta".

Agora responda: quem você acha que está lá, do outro lado, te olhando de volta? Se você é dos que procurou tanto chegar ao limite do sombrio lugar das covardias, então deve ter se inclinado a beira do abismo que se abriu. “Já estou aqui mesmo, o que custa só dar uma olhadinha. Nessa vida, tanto absurdo queimou nossas retinas, que mau faria só mais essa falha geológica, cujo fundo não consigo enxergar?” Ignorando as dores nas articulações, nos inclinamos para observar. Só vemos o breu. É preciso abaixar-se um pouco mais. Ajoelhamos. Usamos a mão para apoiar, agora temos, melhores chances de forçar as vistas e poder conseguir ver alguma coisa. Cerramos os olhos, dilatamos a para pouca luz penetrar. Em meio a densa escuridão, dois pontos luminosos se revelam. É fraca a luz, mas consigo perceber se tratarem de dois olhos. Parecem se mover como eu faço. Como num espelho. Atrevo-me um pouco mais, e estico a mão para dentro do abismo. A essa altura, já estou completamente debruçado na beira, com quase metade do corpo para dentro. A minha mão toca algo gelado, e percebo que os olhos se distorceram ao meu toque.

Dobro a aposta, estico novamente mão, que agora sente o espelho de água turva ondulante. “Olha só, eu aqui com medo. Deu vontade até de arremessar uma pedra para vela quicar na superfície.” Afundo a mão para sentir a água. É gelada. O frio subiu-me por cada vértebra. Cheiro mão e água parece não ter cheiro ou gosto. Agora mais confortável, brinco a fazer ondinhas com as duas mãos. “Que raios de abismo fajuto esse. Não mete medo em ninguém. Esse diabo de filosofo que matou Deus estava é viajando. Um doido, que deveria morrer no manicômio.” Nem deu tempo de pensar em nada, quando as mãos sombrias me agarraram os braços com força. Parecia haver pequenos esporos, que penetraram feito anzol na carne. Meu grito de dor lancinante durou pouco. A criatura turva surgiu das profundezas. Uma ser humanoide todo escuro, como se fosse uma versão negativa.

Deu pra ver agora os olhos dele. Olhava bem para os meus. E eu pude me ver em suas retinas. Meu olhar de desespero. Meu espanto em perceber que fui apanhado. E, o que era ainda pior, percebi que quem me puxaria para dentro do abismo era eu mesmo. Uma cópia idêntica a minha, mas numa versão demoníaca. Antes do inevitável fim, disse mim mesmo, bem ao pé do ouvido: "Para onde prefere que o abismo nos leve: para o nada ou para o vazio?" Em pensamentos fiz minha escolha e fomos engolidos.



Quando Nietzsche me olhou

Na beira do abismo
Eu me inclinei
E dize que quando você chega na beira do abismo
E você o olha,
Ele te olha de volta.

Diante disso,
O que é melhor.
Ou, melhor,
O que é pior ter visto

O meu reflexo e me afogar?
Ter visto o vazio e ser engolido?
Olhar para o nada e perder a fé?
Ou nada disso?
O melhor é
Vislumbrar o universo
E seguir rumo ao infinito?

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