Olaria

Olaria @ManayDeo Poeta Publicitário - @ProvisoriamenteEterno
Poema assentado na luta por democratizar o acesso a moradia digna


A construção do esperançar dessa temporada também é levantada com palavras. Tijolos de almas feitas de letras, assentadas com argamassa de preposições e posicionamentos, fazendo a amarração das paredes da casa que todo poema mora.

Poema para abrigar o amor de quem ama pela primeira vez, para amarrar o nó do pingo d'água de mar de lágrimas de emoção dos que conquistaram coletivamente o direito de morar em definitivo na ocupação.

Quem reconhece o direito humano por moradia, sabe que a dignidade de ter onde morar é o mínimo que todo ser humano deveria ter. Mas a realidade é concreta, longe da declaração da ONU e acerta a cara da nossa consciência  como um tijolo solto do Palace II, edifício erguido com areia da praia que desabou no Rio, ceifando 8 vidas e esfarelando o sonho de 150 famílias desabrigadas. Tragédia até hoje sem solução.

A poesia da ação concreta do verbo esperançar também alcança morada no potente amor que quem amou daquela vez como se fosse a última. Ocupa a ação de quem tá na luta. É a igreja, sendo usada como legitima casa de deus, que cede abrigo ao povo cercado e oprimido pelos perseguidores estatais da ditadura.

É nos versos erguidos desse poema Olaria que se começa a ser construído um questionamento:

O que você precisa perder para entender que é um potencial sem teto?

Se você e seu cônjuge perdessem a renda que tem hoje, e só restasse o pé de meia da reserva financeira, suada para durar uns seis meses? Oito com muita sorte. E se essa segurança acabasse e, ainda, continuassem sem renda? Parentes amigos poderiam estender a mão? Por quanto tempo resistiria até surgir as primeiras trincas nos vãos da casa? As garras da Apprecarização estão aí para dar um empurrãozinho para o abismo de não se ter onde se agarrar. Que dirá morar.

Números oficiais

"De acordo com os dados revisados pela Fundação João Pinheiro, ano base de 2019, o déficit habitacional em todo o Brasil está em 5,8 milhões de moradias. O estudo também apresenta uma tendência de aumento no déficit. Uma das causas para esse crescimento é o ônus excessivo com aluguel urbano, hoje caracterizado como o principal componente do déficit. Nos quatro anos considerados pelo estudo, o número de casas desocupadas por conta do valor alto do aluguel saltou de 2,814 milhões em 2016 para 3,035 milhões em 2019. FONTE: Gov.br

Os versos de Adoniran Barbosa sambam ao retratar a história da saudosa maloca, maloca querida, donde passemos dias felizes de nossas vidas. Vários holofotes ligados para escancarar o show dos milhões de desabrigados, sem chance de concorrer ao baú da felicidade do carnê da casa própria.



Embasado de dados e canção, o chão, o teto, as paredes começariam a tremer. Talvez um pedido de adiantamento, revisão de aluguel poderia conceder algum tempo. Mais um mês, espremendo ainda mais o suco de pedra do orçamento que, por trinta dias, pode ser chamado de doméstico.

Sua casa é própria, quitada. Mas sem renda, como continuaria a pagar os impostos e gastos fixos de luz, água, internet cara, alimentação, gás de cozinha pra cozinhar? Rouba Wi-fi do vizinho, faz fogão a lenha e vive o Life style roots. Até quando se pode aguentar esperar para cair na dura e bem real realidade?

Se a inflação diz: PARA, tô subindo sem avisar. O disparo sobe, acertando em cheio o coração do bolso do mais pobre, desarmado de alento, rede de segurança, emprego ou qualquer auxilio. O sofrimento das ações infladas, causa inflamação na jugular ferida do pobre, que consome 99,99% da sua renda para manter a sobrevivência, trabalhando em biscates, até fazer bicos de papagaio e ver a dor nas costas piar, repetindo a cansativa velha história de desigualdade.

A olaria não coze nada sem as mãos dos trabalhadores oleiros. 


É sobre isso: sobre viver da informalidade, quebrando tabuas do tabu para erguer mais um barraco sob a ponte das vias vísceras da cidade que não para por nada.

Os ricos, os mais abastecidos e abastados, vivem a crise como resíduo. O impacto do tombo de uns causa mero incomodo de outros que reclamam segurando os jornalões e cafezinho servido pela empregada que salgou o arroz da patroa com as lágrimas de dor por perder seu barraco no deslizamento causado pela chuva que caiu ontem (a mesma chuva que caiu no ano passado e ainda é lembrada). Cai bem na bolsa a ruína de uns para o enriquecimento mercadologicamente lícito de outros.

Pouco importa o prejuízo alheio de quem está alheiro aos descalabros do mercado, não se toca no sacrossanto teto de gastos.



Olaria

a muda do assentamento simbólico,
a semente da casa erguida,
o pedaço que sobrou do deslizamento
é o mesmo Barro que constrói,
é a mesma lama que soterra vida e sonhos.

Arcar com prejuízos!?
Não, ninguém vai não.
Só seremos visto como quem vem
com mil pedras na mão;
esta é a única atenção que teremos
de quem nunca moveu um só Tijolo
em nome da moradia.
Proprietário privado,
privacidade privilegiada,
o sonho da casa própria
é só mais um carnê que se paga
a perder de vista o sonho da casa própria.

Eu não tenho como fazer um orçamento.
Mas te digo:

O muro de Berlim já caiu faz tempo
e ainda há nação querendo usar tijolo
para dividir o m mundo em partes
ainda mais desiguais.


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Manay Deô
Manay Deô - O Poeta Publicitário

Sou #poeta, brinco com #palavras e invento #palavrários como #redator de #poesiapublicitaria e Soul #Heterônimo criativo e #artista:



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