Amélia não virou canção dessa vez

Amélia não virou canção dessa vez - @ManayDeo - Provisoriamente Eterno










Eu sou a chaga ferida fétida, o rosto no caminho do tapa na cara, a boca do estômago, calada diante do murro que me esmaga contra o muro.

o olho roxo sou eu, a cara inchada de tanto chorar, as contusões pelos braços, os ossos estressados quase por quebrar. Quando não quebram.

A burra surda deva ser eu, dos ouvidos perfurados pelas palavras que colocam abaixo a minha alma frágil, atormentada pelas ameaças concretas.

Eu sou o corpo imóvel, diante do meu não saber o que esperar de quem eu jurava conhecer, eu sou o tremor no coração, que sente pavor a cada passo dele se aproximando de casa;

A maçaneta da porta gira feito o  seletor de volumes do rádio que ele espatifou de raiva nos meus pés.

Eu sou dona dos rótulos escarlates contendo tudo do que me chamam do que não presta;
a rua e testemunha de acusação  do meu escárnio.


Amélia não virou canção dessa vez - @ManayDeo - Provisoriamente Eterno
Eu sou a ultima gota de coragem, eu sou aquela estrofe da oração em que peco por desejar a morte. A dele e a minha própria.


Sou cada pensamento de vingança reprimido pelo medo, a mente perturbada pelo assombro do algoz.

Eu sou a culpa por permitir tudo que me infligem, eu sou a responsabilidade que me dói, a deterioração do que um dia eu chamei estima própria.
eu sou a terceira pele exposta, onde a água quente me alcançou, eu sou a goela sufocada pela mão que me captura pelo pescoço.

Eu sou as minhas mãos, que ao mesmo tempo tentam me livrar do esganamento, mas se preocupa em não bater demais, qualquer força minha pode machucar os braços do desgraçado.  saio do esgano para ser abruptamente espancada por um certeiro tapa com as costas da mão dele.

Eu sou a ultima gota de coragem, eu sou aquela estrofe da oração em que peco por desejar a morte. A dele e a minha própria.

Eu sou tanto o sorriso tímido, quanto o dente quebrado que tento esconder por detrás do lábio rachado. 

Eu sou a parte do corpo revelada pela roupa que me transformou de vítima a culpada. eu sou o não ignorado pelo bruto desejo alheio que agora quer me destruir ante minha negativa na cama. 

Eu sou a dor do sexo sujo a que me sujeito.
a lágrima que escorre, parece ter sido o que me sobrou de dignidade humana.

Eu sou o que
restou de mim
prá contar a história.


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Manay Deô
Manay Deô - O Poeta Publicitário

Sou #poeta, brinco com #palavras e invento #palavrários como #redator de #poesiapublicitaria e Soul #Heterônimo criativo e #artista:



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