AppRecarização

AppRecarização - @ManayDeo - Provisoriamente Eterno




Fora da classe trabalhadora, agora estamos dentro do processo de precarização do trabalho. Em pleno caos, sem trampo e só em trapos, buscamos um sinal da tecnologia para estar na lida e salvar o dia de alguém com fome de fast food em algum lugar da cidade.

Dignamente, como qualquer trabalho é, saímos pedalando ou rodando de moto pelas vias. Entregamos, por isso, somos Entregadores.

Nessa situação, entregamos por necessidade e pouco valorizados como profissão, pois o app que não é nosso patrão (mas manda, exige e paga mal tal como um patrão, dos mais perversos) já tá agendando mais entrega, na hora que ele decidir que for melhor para seu livre lucro no mercado de capitais.

Para o cliente, chega uma experiência quentinha, para nós, o calor na panturrilha, dor de cabeça encoberta pelo capacete.


AppRecarização - @ManayDeo - Provisoriamente Eterno
É daí, das injustiças, das pesadas pedaladas do app, que vem nossa força, vem nosso protesto


Nosso lugar é de ralação, bloqueios, baixos pagamentos. É nosso trabalho, mas os app é que  não veem assim.

Apprivativazação é vista como tabua de salvação, vendendo a ideia de progresso a preço de banana, sem resolver nada para o lado que quem trabalha e contribui. Pior, a privatização por App vem para introduzir o elemento precarizador da esfoliação do corpo e a pele de quem está nas ruas, entregando de sol a sol, noite a dentro, sob chuva e risco de acidentes e ao desprazer da sorte da bike ou moto não precisar de caros reparos em plena rota de um pedido.

É daí, das injustiças, das pesadas pedaladas do app, que vem nossa força, vem nosso protesto. Aqui, em versos de um poeta que simpatiza com a causa e tenta contribuir com alguma relevância com a melhor poesia se pode entregar.




AppRecarização


Eu me entrego à luta servindo a sua bandeja.
É só pedir pelo App,
e logo, logo já saio me entregando.

Essa fome de vencer na vida,
me botou no olho da rua da amargura,
dos jardins a avenida Paulista.

Essa vontade de seguir em frente,
eu enfrento diariamente em cima da BICICLETA que não é minha.

Parece brincadeira,
mas trabalho até em cima de PATINETE ALUGADO,
largado em qualquer canto das esquinas chiques da cidade;
largado digo, o patinete...
e eu, quando arrumo tempo para descansar.

A tal dessa vitória trabalhista já não é minha.
Eu só entrego em nome do empreendedorismo,
liberalismo e aplicativo;
amem ou deixe-o.

Eu sou uma das pontas soltas
dessa história de tempos modernos,
onde sendo trabalhador,
dizem que sou é meu próprio patrão.
Mas só entrego comida em bandeja de EPS,
caixa de papelão ou alumínio e não em prato.

Como é isso?

Estou na mão da tecnologia,
sou protagonista de uma realidade digital,
onde eu só escrevo trajetos no Google maps.

De resto, eu só entrego.

Eu sou o argumento de alguém que diz
que não devemos desistir,
não devemos nos entregar
a qualquer dificuldade que aparece.

Mas esse que fala, não sou eu.
Mas eu entrego tudo de bandeja,
na sua mão, tudo bem lacradinho no plástico filme,
bem ao gosto de quem enche a boca para discursar elogiosamente
sobre o sucesso desse negócio de entregar por App.

Faria lima tanta diferencia assim
se eu não me entregar mais para essa ideia?

Eu nem vejo a cara do sujeito.
Só deixo na recepção do prédio, e saio vazado
(as vezes varado de fome)
pra seguir para próxima entrega do dia quem nem chegou na metade.

No meio da labuta,
me entrego ao cansaço
e caio aos pés de qualquer monumento importante.
Afinal, escultura da cidade que não faz sombra,
deve ser ignorada.

No fim da jornada, me entrego ao desgaste e desmorono no banco da busão.
No fim do mês me entrego as contas a pagar.
No fim do ano, me entregam receitas médicas.
No outro dia, entrego novamente.

Appelamordedeus!

Quanta entrega ainda tenho que fazer pra ficar rico,
pra ficar livre, pra ficar dono desse negócio de entregar?

Eu nem lembro quando fui expulso da classe trabalhadora
pela nova lei para estar agora grudado ao celular,
checando qual a próxima entrega.

Não posso é ser bloqueado,
se não nem me entregar a tanta entrega posso mais.

Imagina se me cancelassem nas redes desses App?
Nem pensar.
Bora pedalar, bora rodar mais.
Bora me entregar direitinho.

Apertem o cinto:
- o patrão sumiu e com eles qualquer direito.
É lógico, isso pesava demais no fim das contas
pra se contratar mais entregadores.

É ilusão pensar quem é que manda por de trás da tela do App,
que me diz onde, quando e com qual intensidade entregar.

Manda quem detém a tecnologia.
Obedece quem ainda tem juízo
e corpo sadio pra entregar cada vez mais, e mais, e mais.

No fim da vida, que parece ter chegado mais cedo logo quando acordo,
não sobra nada.
Mas isso é tudo que posso fazer.
Minha revolução é reclamação
sobre a comida revirada na bag.

Quem vai desistir por mim?

Sei lá. Quem sabe inventam App para isso.
Agora, eu me entrego à luta no app.

Só me entrego.

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Manay Deô
Manay Deô - O Poeta Publicitário

Sou #poeta, brinco com #palavras e invento #palavrários como #redator de #poesiapublicitaria e Soul #Heterônimo criativo e #artista:



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