Embaixo dessa demolição planejada, em que estamos amalgamados a entulhos, somos esmagados, a própria ruína concreta, os quebrados. Os que gritam em agonia, a massa amassada; o pão do diabo é farinha rala, diante da pressão que sofremos da estrutura, que nos afunda para a escuridão de oceanos de milhões de metros cúbicos; profundos mares feitos de lágrimas e sangue.
A estrutura tem estilhaços de todo azar de materiais perfurocortantes, penetram em carne viva, varando nossos corpos, até esvaziar a gordura combustível do fogo que arde nas entranhas da estrutura.
A estrutura geme, a estrutura grita, a estrutura morre e vive todo dia, em infinita tortura, ao Bel prazer de quem move o moedor, e ao lancinante sofrimento de quem é moído.
A estrutura é feita uma pirâmide de soterramento de pó de proteína e cálcio humano, e mesmo sendo um só símbolo, quem é escombro na base, sente todo peso. Que só aumenta. Tentamos empurrar os escombros, para nos desvencilhar, ter um momento de alívio, uma sobra de espaço.
A arquitetura sistematicamente assassina de gente embaixo dela |
Ao deslocar uma pedra, outra desliza. Nesse movimento, surge outra caverna de escombros para desbravar.
Há sempre uma luz que penetra entre as pequenas frestas da estrutura. São estas pequenas réstias, que nos mantém vivos, ainda que respirando as partículas que rasgam os alvéolos de nossos pulmão, mesmo em hemorragia severa, mesmo tontos pela traumatismos, mesmo em calcificação eterna de ossos que se quebram, mesmo quase cegos pela neblina da poeira tóxica, mesmo o coração quase parando, mesmo não saber que o pedaço de carne que se arrasta somos nós ainda sobrevivendo…
A luz está lá, como o horizonte que já é outro, a cada avanço que nos arrasa nos escombros da estrutura.
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